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13 de agosto de 2010

A possibilidade de compreender “O Coruja” do ponto de vista de formação

Por Lara Beatriz Fuck

“O Coruja” foi o oitavo romance-folheiras de Aluisio de Azevedo. Inicialmente o autor o publicou em capítulos diários, no rodapé de “O País”; depois os reuniu no livro em 1890. (AZEVEDO, p. 15, O Coruja)

Esta obra, embora não se constitua como um romance de formação, com os elementos e fins próprios que o caracterizariam; pode ser explorada na perspectiva da formação. Nesta perspectiva, através da leitura objetivaremos explorar a formação do personagem “Coruja” dentro de um período sócio-histórico de transição no Brasil do Império para a República; como Aluisio de Azevedo situou a formação de Coruja e seu amigo Teobaldo dentro deste contexto. Para, Angela Maria Rubel Fanini (2003) doutora em Literatura, pela UFSC, cuja tese defendida sobre Os romances-folhetins de Aluísio Azevedo: aventuras periféricas, “A obra de Aluísio de Azevedo se insere em uma orientação interessada e empenhada da literatura brasileira e é nesse sentido que permite que as relações entre literatura e sociedade possam ser rastreadas.”

Nesta perspectiva que poderemos situar como os principais personagens criados por Azevedo, Coruja e Teobaldo, são submetidos no colégio interno à educação no período de transição entre o Império e a República. No interior da escola, bem como aos cuidados do Padre, Coruja é encaminhado em sua educação conforme a pedagogia clerical que preponderava no período imperial. Em contradição a esta educação formal, Coruja encontra espaços para uma formação aos moldes mais republicanos: na relação com a música, com a leitura e as letras, bem como, com a natureza. Relações de ensino-aprendizagem mediadas por personagens “marginais” ao ensino formal. Um desses personagens marginais, é o Caixa d’Óculos, criado da escola, que abre espaço para o Coruja para sua relação com os livros, quando conquista o espaço da biblioteca, outra relação se estabelece também com a família Albuquerque. Assim, situaremos como na formação de Coruja, preponderou a educação republicana e os desdobramentos para a constituição de sua personalidade.

Nesse processo de formação, Coruja estabelece relação de mediação fundamental com Teobaldo, de início no colégio interno, avançando ao longo de suas vidas. Através de Teobaldo, relaciona-se com a família deste. Transitando entre a educação realizada pelo Padre, depois no colégio interno, em seguida o convívio no interior da família de Teobaldo, observa-se as características daquele contexto sócio-histórico dentro do qual ocorre a formação de Coruja. Objetivaremos como Aluísio de Azevedo contextualiza a formação dos personagens num espaço de contradição entre uma pedagogia clerical estabelecida e de outro, uma pedagogia que se insinua e necessária para a formação de um homem republicano. Tratam-se então de constituição de sujeitos ou personalidades distintas, que se objetivam nos personagens Teobaldo e Coruja. Colocaremos em relevo, como Coruja encaminhou-se na direção da constituição de um sujeito republicano, enquanto Teobaldo num sujeito aos moldes imperialistas.

Para refletir sobre esses aspectos neste romance, faremos uso do método progressivo-regressivo, proposto por Jean Paul Sartre em “Questão de Método”, ou seja, analisar o singular do Coruja, ir ao Universal do contexto sócio-histórico em que estava inserido, e assim com Teobaldo. Situaremos como o próprio autor Aluisio de Azevedo se fez no personagem Coruja. O próprio Aluisio de Azevedo se fez Aluisio de Azevedo nesse contexto sócio-histórico de transição, numa posição crítica em relação ao Império e ao clérigo.

A geração realista de intelectuais produz em um momento histórico bastante rico e complexo da história brasileira. Esses intelectuais, em sua maioria, posicionavam-se contra o Segundo Império, criticando as políticas públicas do Imperador D. Pedro II por intermédio de romances, contos, crônicas, caricaturas, teatro etc. Boa parte dessa intelectualidade era abolicionista, republicana e positivista e, por isso, não gozavam da proteção do mecenato palaciano exercido pelo Imperador. Os escritores realistas, desprovidos de uma política pública de apoio à sua produção intelectual, lutavam para se inserir no circuito cultural, publicando em jornais e periódicos, contribuindo desse modo, para estabelecer relações de mercado no universo cultural.” (FANINI, 2003, p. 2)
Através de um personagem fictício, Aluisio de Azevedo se fez ver. Sabidamente Aluisio de Azevedo era republicano, divergia dos padres e da educação clerical. Aluisio de Azevedo “...acobertou-se sob pseudônimos (...) para atacar os padres, numa irreverência descabida(...)” (p. 11, O Coruja). A posição de Aluisio de Azevedo pode fazer-se reconhecer no personagem Coruja, em suas qualidades e atitudes.

Para refletir sobre as relações entre esses elementos, utilizaremos como categorias: mediação, socialização, sociologização, reciprocidade, projeto e desejo de ser, episodio, atmosfera humana, clima antropológico, contexto sócio-antropológico. (...)


  • Continue lendo o ensaio realizado pela psicóloga e mestranda Lara Beatriz Fuck, na Disciplina "Seminário de Dissertação", do "Mestrado em Educação" da Universidade Federal de Santa Catarina, no Site do NUCA   (em Subsídios Científicos / Textos Diversos).

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