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6 de janeiro de 2009

Histeria e ciência médica


Descoberta Científica:
Transcrevemos a seguir duas páginas do livro “Les attentats aux moeurs” do Dr. Ambroise Tardieu, em tradução livre. Utilizamos a edição de “Jerôme Milloon”, 1995. Mas, a edição original da obra é de 1857, por J.B.Ballière, de Paris. Escolhemos a passagem na qual Dr. Tardieu comunica a descoberta da etiologia do fenômeno da histeria por dezenas de médicos do século XIX, que se dedicavam à prática da Medicina Legal e, especialmente, ao estudo das violências ou atentados ao pudor contra meninas e mulheres:

“(Conseqüências dos atentados contra meninas e mulheres): As violências praticadas contra meninas e mulheres não deixam apenas lesões corporais, seqüelas físicas de qualquer ordem, tantas vezes conhecidas, inequívocas. Elas também alcançam os sentimentos mais íntimos das vítimas, desdobram para perturbações morais, emocionais, psicológicas enfim: verificadas na condição psicofísica das mesmas: são afetações que alteram de maneira mais, ou menos grave; mais, ou menos profunda; mais, ou menos durável; a saúde geral das vítimas, para a vida de relações na infância, na adolescência ou na idade adulta. Dependendo dos detalhes e das circunstâncias de cada caso, tais seqüelas podem ser imediatas e passageiras ou secundárias e prolongadas ou ambas as coisas.”

“As seqüelas imediatas, que podem ser prolongadas ou não, aquelas que ocorrem na continuação dos atentados ou violências, objetivam-se principalmente em perturbações nervosas variadas, tais como: a síncope, o delírio, as convulsões, o movimento febril agudo e violento, sensação de dor profunda e de fadiga acompanhada de dores dilacerantes no peito ou nos pulmões.”

“As seqüelas secundárias, aquelas que se verificam por função, extensão ou desdobramento das primeiras ou imediatas, manifestam-se ou se objetivam em perturbações da menstruação, sintomas gastrintestinais, palpitações e outros sinais de pânico (bastante comum em jovens nubentes) em analogia completa com as perturbações emocionais que ordinariamente acompanham as afecções dos órgãos genitais. Então, as violências ou atentados contra meninas e mulheres aparecem como ponto de partida das afecções histéricas, tais como: corrimentos, acessos emocionais, mais raramente convulsões epilépticas.”

“Nos casos em que a defloração por atentado ou violência é seguida de reaproximações sexuais repetidas, sobretudo quando se trata de menina ainda longe da puberdade, se observa a constituição psicofísica inteira prejudicada, ao mesmo tempo em que os órgãos genitais apresentam as deformações que temos descrito. A palidez do rosto, a tez cinzenta, os olhos apagados e cercados por olheiras; a pele seca, o esgotamento nervoso, a lentidão nas elaborações reflexivas, a fraqueza extrema muitas vezes, são ocorrências que revelam as conseqüências perniciosas para as vítimas desses atos que afetam a moral, as emoções e o organismo: prejudicando a pessoa inteira, como personalidade objetivada em carne e osso.” (Tardieu: 1995:70)

“(Das violências seguidas de morte): A humilhação, o temor da desonra tem conduzido muitas vezes as mulheres vítimas de atentados ao suicídio. Dispomos de muitos exemplos a respeito: num deles uma mulher saltou pela janela tão logo conseguiu livrar-se de quem acabara de abusar dela; noutro caso, uma moça violentada se suicidou por asfixia na noite seguinte à do crime.”

“Muitas vezes a violência ou atentado é prelúdio para queima de arquivo ou eliminação por assassinato da única testemunha ocular do crime; além daqueles casos em que o criminoso não consegue vencer a resistência da vítima ou conter a crise emocional que se segue ao atentado, sem matá-la; podendo sempre avançar do atentado ao assassinato. Nos casos em que o perpetrador já seja fichado pela polícia ou passado pela justiça por crime de atentado, o crime é cometido geralmente por estrangulação. Algumas vezes se observa também lançamento do cadáver ao mar.”

“Em certos casos, a morte pode ser uma conseqüência indireta ou acidental; mas, noutros vem como continuação imediata do atentado. As perturbações que referimos acima como podendo ocorrer sob impressão de violências súbitas, podem adquirir uma intensidade tal, fazerem-se tão agudas que a mulher sucumbe seja por uma síncope, seja por um delírio agudo, seja por paroxismo convulsivo, seja inclusive por uma febre cerebral. Periciamos recentemente uma moça virgem na qual se precipitou uma crise de meningite em conseqüência de uma tentativa de violência.”

“Não restam também dúvidas de que os desdobramentos advindos aos órgãos sexuais da vítima possam ser conducentes à morte: seja por uma hemorragia na pequena bacia, seja por uma inflamação dos ovários ou peritonite. Esses casos se verificam geralmente quando certa mulher é submetida a ultrajes repetidos por vários perpetradores, sendo que cada qual deles a submete a brutalidades selvagens.” (Tardieu: 1995:71)

Pedro Bertolino

Florianópolis, verão 2008
Imagem copiada da internet

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