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27 de março de 2011

Charcot: hipnotismo e teatro


(...) O teatro de hipnotismo para diagnóstico de histeria em homens ou mulheres, pois, tornou-se galinha dos ovos de ouro para o patronato, menina dos olhos da corporação psiquiátrica de olho no feudo que lhe era concedido. A ala de consultação externa na Salpêtrière destinava-se à realização de perícias médico-legais pelos assistentes Charcot, neuropatologistas recém-inventados, deixando fora de jogo aos profissionais da Escola de Fodéré/Tardieu, cujos laudos vinham incomodando tantos. E os serviços chegavam conforme encomenda: 
Freud descreveu um caso de histeria traumática em um homem, que se seguiu à queda de um tablado, caso que ele mesmo observara na “Sapêtrière”. Por fim mencionou a sugestão de Charcot de que alguns casos de afecção da coluna vertebral causada por acidentes ferroviários podiam ser histéricas, ponto de vista americano que estava sendo contestado na Alemanha. (Jones: 1989: 1: 237)
A tomada de território efetuada por aquela força de elite, com todas as demais em retaguarda ou apoio, fazia o momento oportuno para a contestação das verificações e descobertas da Escola de Fodéré/Tardieu no que concerne à etiologia dos fenômenos histéricos como desdobramento de inconveniências nas relações interpessoais durante infância e adolescência, no interior das famílias ou das instituições. Foi hora de recurso ao infinito e apelo à eugenia de Cesare Lombroso para fins doutrinários em Medicina Legal. Crianças vítimas de “abusus sexualis”, atentados ao pudor, violências domésticas; histéricas com seus padecimentos emocionais queixando-se de sevícias e agressões de toda ordem; trabalhadores em suas paralisias e outros males por acidentes ou condições insalubres; eram todos subsumidos sob o manto da histeria, então generalizada par os devidos fins:
Charcot postulou uma forma simples para esta: devia-se considerar a hereditariedade como causa única. Conseguintemente a histeria era uma forma de degeneração, um membro da “famille névropathique”. Todos os fatores etiológicos desempenhavam o papel de causas incidentais, de “agents provocateurs”. (Freud: 1897a: 24) (...)
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O trecho acima se trata de uma parte do primeiro capítulo do livro do professor e escritor Pedro Bertolino, "Macabro Engodo - atentado contra crianças, mulheres e trabalhadores", no prelo, e consiste em ensaios desde Charcot, Lombroso, Tardieu e Sartre, cuja íntegra está disponível em Subsídios Científicos / Textos Científicos, no Site do Nuca.

Pintura: Une leçon clinique à la Salpêtrière. Pierre-André Brouillet Charroux, 1887.                          

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